sábado, 9 de abril de 2011

Eus

Um dos milhões que sou, não tem muitos pudores. E talvez por isso seja tão reprimido quando encontrado no refúgio do anonimato.

As vezes me pego fugindo de mim mesmo quando apareço de uma forma não convencional. Existem vários de mim que nem eu mesmo conheço. Sei que existem, mas não conheço. Já percebi a presença muito forte do maldoso, frio, calculista. Sei também que existe o extremamente carinhoso, atencioso e romântico. Outrora me pego confabulando em pensamentos com o obsceno, sádico, promíscuo, despudorado, intrépido.

Tive dia desses, a oportunidade de coloca todos esses de mim para fora, e existir de outra forma. No momento em que fico de frente para esses “eus” me sinto acuado da boca pra fora, e reprimo o que vem de dentro. É um bloqueio que vem do subconsciente, ou sei lá de onde. A minha real vontade é de deixar todos virem à tona, acabar com a imagem que têm de mim, seja ela qual for, no exato momento em que minhas atitudes são vistas previsíveis. A vontade de fazer o inesperado é tamanha que assusta. Tenho medo de ser um caminho sem volta. Ou trazer conseqüências sérias, não salvo o risco de morte.

Pode parecer que estou levando tudo isso para uma dimensão desnecessária. Mas não, é a dimensão real da situação. É puro medo e pudor em demasia. O que acontece pode ser relacionado a uma ração química, tipo a combustão: situação atípica + medo do desconhecido = INSEGURANÇA.

Sempre tenho a sensação de estar perdido, e num constante desejo de que alguém venha me mostrar o caminho de saída. Ou de entrada para outra vida. Uma nova vida.

Porém, sei que basta ter coragem de enfrentar meus demônios e me livrar de toda a santidade que se mantém inerente em minha sensatez criada durante uma vida de repressão e confinamento em mim mesmo. A liberdade ainda é condicional. Devo reconhecer que já desconstruí muito do que eu era, e dessa forma sou mais feliz. Mas a busca da felicidade é constante. Somos insatisfeitos e sempre queremos a grama do vizinho. Meus amigos são mais livres, eu sou preso. E sei que, quando conseguir minha liberdade plena, sentirei vontade de me prender em alguma coisa só pra me sentir inquieto e buscar outro de mim.