quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Dessas Coisas

Andei por uma avenida perigosa já sabendo que estava mal cuidada. Eu sabia que o caminho que estava fazendo era desconhecido, e por isso perigoso. Mas o perigo não era movimentação de carros, de pessoas ou animais. Isso quase não tinha. O problema era mesmo os buracos, o desgaste do asfalto, as árvores do canteiro central secas e desfolhadas. Observava o movimento de pouquíssimas pessoas. Elas estavam felizes e soltavam pipas; era a comemoração da noite de São João. A tradição era levar a pipa até certa altura e depois deixá-la solta no ar, ara seguir o caminho que o vento achasse melhor. Com nuvens em tom de azul escuro, o céu contrastava em tom de rosa. As pessoas gritavam felizes, dizendo que aquilo era melhor coisa do mundo, que adoravam essa festa. As crianças corriam atrás dessas pipas, às vezes até brigavam por elas. Foguetes de todos os tipos brilhavam no céu. Eu me sentia totalmente deslocado no meio daquilo, mas queira ver mais. Queria conhecer mais. O telefone toca, eu sinto um abraço apertado, quente e protetor. A voz me dizia tudo que eu queria ouvir; mas era uma simples reprodução de bons tempos, sem mágoa, raiva, saudade ou desgosto. A avenida era um sonho perturbado. Sonho de febre. O abraço, um delírio acordado. Garganta inflamada e coração ferido têm dessas coisas.