Quando eu era criança, achava que
seria professor de História. A beleza e o profissionalismo de uma professora da
5º série me encantavam. Mas muito antes disso, acho que aos 5 ou 6 anos, eu
queria ser o médico que fazia parto. Vulgo obstetra. Talvez fossem esses os
primeiros sinais de criatividade, dar vida a algo. Depois passei a gostar de
criar bolos com barro. Procurava pelo quintal e pela rua, objetos e plantas
para a cobertura. Não demorou muito para aprender a cozinhar: observava minha mãe
em todos os passos na cozinha. Daí queria ser cozinheiro, chefe de cozinha. “Pai,
quero estudar gastronomia e história”. Ele disse que ainda tinha muita água
para passar por baixo da ponte, e que eu iria mudar de ideia muitas vezes. Mantive
esse desejo até a 8º série. Foi quando, numa dessas pesquisas que os
professores costumam fazer em sala de aula, a professora Daniela (dava aula de
Artes) perguntou o que queríamos ser. Quando disse que estudaria gastronomia,
ela logo adiantou “Ce sabe que cê vai ter que ó... ir pra fora”. Me deu um frio
na barriga. Como assim ir pra fora? Ficar sem meus pais e irmão? Meus amigos? Não
dá. Tenho que fazer outra coisa. Não demorou muito pra eu descobrir uma nova
vontade. “Tio, o que eu tenho que estudar pra ser diretor de clipe?” “Ah...
Cinema.” Minha tia fez uma cara de “Cê vai estudar isso?”. Ok. Agora quando me
perguntarem o que eu vou estudar, a resposta será Cinema. Sempre via meus
colegas dizendo que iriam fazer medicina, engenharia, psicologia... Coisas
socialmente aceitáveis. Mas eu queria fazer Cinema. Eu, pobre, morando na zona
norte. “Vai viver do quê?” Não sei como descobri Publicidade e Propaganda. Mas
já no ensino médio me lembro de ter escolhido isso. Hoje eu nem quero mais. Um
dia meu amigo me apresentou o “Movie Maker”, editor de vídeo do Windows. Achei
fascinante. Depois disso pesquisei sobre outros programas semelhantes e decidi:
vou ser diretor e editor. Sempre que era possível, eu apresentava um trabalho
em vídeo. Mesmo quando não dava, eu gravava a apresentação pra editar e
compartilhar com os amigos. Era uma paixão sem volta. Em 2011 comecei a estudar
para seguir esse sonho. Formei-me em Técnico em Rádio e Televisão. UAU! Passou
um filme longo na minha cabeça: depois de tanto divagar sobre profissões,
encontrei a que realmente faz sentido. Mas um sentimento de insatisfação toma
conta de mim, numa proporção pavorosa. Nunca está bom o suficiente. Sempre acho
que falta um pedaço, sobra um pedaço. E ter estudado o que eu realmente
escolhi, encheu minha cabeça de interrogações. Descobri que canto bem em jingle,
sou um bom locutor, amante de fofocas cômicas de subcelebridades (criei um
podcast pra isso), escrevo textos bons para meu tímido blog, sou um bom editor
de áudio e vídeo, aspirante a cinegrafista e operador de câmera. Além disso,
cozinho bem. Mas não fiz nenhum parto, me atrapalho pra contar histórias e não
tenho uma boa memória. Apesar de não parecer, não sou seguro de nada disso.
Acredito quando dizem que sou bom em alguma coisa só pra não pirar de vez.
Às vezes dá medo de não ser bom
em nada no final das contas.