domingo, 28 de outubro de 2012

No final das contas


Quando eu era criança, achava que seria professor de História. A beleza e o profissionalismo de uma professora da 5º série me encantavam. Mas muito antes disso, acho que aos 5 ou 6 anos, eu queria ser o médico que fazia parto. Vulgo obstetra. Talvez fossem esses os primeiros sinais de criatividade, dar vida a algo. Depois passei a gostar de criar bolos com barro. Procurava pelo quintal e pela rua, objetos e plantas para a cobertura. Não demorou muito para aprender a cozinhar: observava minha mãe em todos os passos na cozinha. Daí queria ser cozinheiro, chefe de cozinha. “Pai, quero estudar gastronomia e história”. Ele disse que ainda tinha muita água para passar por baixo da ponte, e que eu iria mudar de ideia muitas vezes. Mantive esse desejo até a 8º série. Foi quando, numa dessas pesquisas que os professores costumam fazer em sala de aula, a professora Daniela (dava aula de Artes) perguntou o que queríamos ser. Quando disse que estudaria gastronomia, ela logo adiantou “Ce sabe que cê vai ter que ó... ir pra fora”. Me deu um frio na barriga. Como assim ir pra fora? Ficar sem meus pais e irmão? Meus amigos? Não dá. Tenho que fazer outra coisa. Não demorou muito pra eu descobrir uma nova vontade. “Tio, o que eu tenho que estudar pra ser diretor de clipe?” “Ah... Cinema.” Minha tia fez uma cara de “Cê vai estudar isso?”. Ok. Agora quando me perguntarem o que eu vou estudar, a resposta será Cinema. Sempre via meus colegas dizendo que iriam fazer medicina, engenharia, psicologia... Coisas socialmente aceitáveis. Mas eu queria fazer Cinema. Eu, pobre, morando na zona norte. “Vai viver do quê?” Não sei como descobri Publicidade e Propaganda. Mas já no ensino médio me lembro de ter escolhido isso. Hoje eu nem quero mais. Um dia meu amigo me apresentou o “Movie Maker”, editor de vídeo do Windows. Achei fascinante. Depois disso pesquisei sobre outros programas semelhantes e decidi: vou ser diretor e editor. Sempre que era possível, eu apresentava um trabalho em vídeo. Mesmo quando não dava, eu gravava a apresentação pra editar e compartilhar com os amigos. Era uma paixão sem volta. Em 2011 comecei a estudar para seguir esse sonho. Formei-me em Técnico em Rádio e Televisão. UAU! Passou um filme longo na minha cabeça: depois de tanto divagar sobre profissões, encontrei a que realmente faz sentido. Mas um sentimento de insatisfação toma conta de mim, numa proporção pavorosa. Nunca está bom o suficiente. Sempre acho que falta um pedaço, sobra um pedaço. E ter estudado o que eu realmente escolhi, encheu minha cabeça de interrogações. Descobri que canto bem em jingle, sou um bom locutor, amante de fofocas cômicas de subcelebridades (criei um podcast pra isso), escrevo textos bons para meu tímido blog, sou um bom editor de áudio e vídeo, aspirante a cinegrafista e operador de câmera. Além disso, cozinho bem. Mas não fiz nenhum parto, me atrapalho pra contar histórias e não tenho uma boa memória. Apesar de não parecer, não sou seguro de nada disso. Acredito quando dizem que sou bom em alguma coisa só pra não pirar de vez.

Às vezes dá medo de não ser bom em nada no final das contas. 

Da curiosidade

Ai, se a curiosidade soubesse
O quanto a alma padece
Pra poder se sustentar

Ela se contentaria com o que tem
Não duvidaria de ninguém
E deixaria esse pobre homem descansar

Mas eu que sou quase bobo
Tenho o coração de tolo
A deixo tudo comandar

Eu que vivo me perdendo por aí
Logo tão tarde percebi
Que ela faz meu doce azedar

Ela que pergunta até quando
Tanto, quanto, até como
O meu peito pode aguentar

Falo grosso, bem baixinho
Admito, eu não minto
Que ela faz meu mundo girar