quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Gato

Seu sobrenome é Gato. Cheio de manha, vontades, peculiaridades. Nunca fui de me apegar aos felinos. Principalmente os de miado muito mole e sedentos por atenção. Sempre me encantei por tigres ou leões: imponentes e destemidos. Esse Gato é atrevido, mas teme não ser querido. Então, logo dá seu jeito de se esfregar aqui e ali, buscando toda atenção que precisa para se sentir vivo. Os olhos do Gato, de uns tempos pra cá, andam se encontrando com os meus. Eles não se dão. Às vezes se ignoram, outras poucas namoram. Mas é rápido, eles não se apaixonam. Sem apegos. O Gato usa botas lindas e surradas, sujas de lama que não sai dali. Eu sempre a vejo, é memória que eu não devo esquecer, é para eu saber por onde ele andava enquanto eu me encontrava. Apesar de eu relutar, não encarar, amar os caninos e felinos de grande porte, esse Gato tem ganhado minha atenção. Mais do que merece, diga-se de passagem. Não, não quero admitir que, se ele quiser, pode se esfregar em mim pra fingir que fez muito pra me ganhar. E não vou admitir. Não mais. O que me mantem sempre arisco é toda aquela lama, que eu quero ver sempre; para saber por onde procurar esses miados sedentos por mim, que sempre dou toda minha atenção. O Gato está indo sujar um pouco mais suas botas. E eu? O que eu vou fazer? Vou escutar seus miados e fingir que eu não me apego, dando toda minha atenção. Afinal, é disso que ele precisa pra ser assim tão Gato.