domingo, 20 de fevereiro de 2011

Neverland

Fugiu como uma criança que vai pra Neverland

Compromisso não era seu amigo

Preferiu se divertir com o inimigo

Só até se machucar

Correu pros braços daquela sempre lhe acolheu

Tomou um fôlego e desapareceu

Correu por vários lugares

Fez muitas de suas vontades

Até com a polícia se meteu

Filho de família pobre

Gente educada e honesta

Mas com ovelhas negas se entreteu

Se gabava das putinhas que comia

Mas nenhuma o prendia

Queria que o mundo fosse seu

Com os estudos não queria perder tempo

Passou a duras penas

E com o pai foi trabalhar

Enxada e pá; agora suas amigas

Calejou suas mãos

E com a vaidade ferida

Foi um emprego procurar

Caiu naquele que era lugar de muita gente

Quem passava na porta procurando se empregar

Logo se acomodava em um lugar onde não queria estar

Passou um tempo orgulhoso pelo espaço que na carteira vivia vazio

Mas, que agora, um moço acabou por assinar

Brigou com o chefe

Disse que aquele lugar não podia suportar

Fazia do lugar do ganha pão

Uma completa diversão

E com o chefe voltou a brigar

Essa foi a última, pois naquele lugar

Não ia mais voltar

A mãe guerreira

Queria ver o filho novamente empregado

Tratou de arrumar uma vaga

Naquela empresa que muita gente gostava de falar

No primeiro mês, muitos planos e elogios

Todos se iludiram, achando que iria mudar

No mesmo tempo, resolveu que só de duas rodas queria andar

Correu atrás de sua vontade

Mesmo que na malandragem

Sua moto conseguiu comprar

Mas estarrecida, a família sempre se perguntava:

- Como é que vai pagar?

Nem na primeira cumpriu com a palavra

Saiu pela estrada com uma qualquer a garupar

Ela virou sua cabeça, queria que como condessa

Ele começasse a tratar

E assim o bobo o fez

Ergueu a cabeça para se fazer de mauricinho

Sendo que na sua casa, a dívida continuava fluindo

A mãe de cara a nora rejeitou

Disse que ela não prestava e o seu filho aconselhou:

- Abre seu olho, que o bico dela, já abriu.

E como a mãe previu, muito tempo não demorou

Não deu conta de sustentar a vossa alteza

E o bobo da corte virou

Fingiu durante um tempo, que tinha se endireitado

Mas sempre saia calado

Pois aos boêmios companheiros

Ainda não tinha largado

Criou até mesmo um vício

Que durante a vida, havia abominado

E que quando ele ainda era criança

A mãe avia largado

Sobre duas rodas viveu intensamente

Passou por ruas e nascentes

Por muitas vezes, sofreu acidentes

Os chefes não ficaram contentes

E somando outros incidentes

Preferiram dele se livrar

Chegou em casa

Saiu mais cedo do trabalho

Pai e mãe embasbacados

Com o que teria acontecido

Já prevendo o que ocorreu

Abriram a boca e ele respondeu:

-Fui demitido. Mas o culpado não fui eu!

Entrou no quarto

Com a raiva expressa

Perguntou pra si mesmo:

-E agora o que faço?

Mais uma vez, lamentava o fracasso

Os pais entraram logo em seguida

Questionando o motivo de tal atitude atrevida

Que resolveu tomar

Então, em prantos lamentou

Quem mesmo dizendo que por muito tempo agüentou

Não queria ter desdenhado da oportunidade do trabalho

Mais uma vez, jogado as traças

Nenhum dos boêmios se dispôs a ajudar

Mas ainda assim, lhes dispôs em diversão

Tudo o que poderia gastar

A mãe percebendo que muitas dívidas teria que pagar

Resolveu lhe salvar, pôs seu nome a prova

Sabendo da cria que, muito, não podia esperar

Para não dizer que não houve um amor

Uma corajosa ele arrumou

Enquanto não tinha boemia para lhe levantar

Resolveu que com ela um tempo iria passar

E assim foi, ela aceitou

Depois de ter arrumado um bico

Num novo emprego se arranjou

Cortava carnes para muitos loucos

Mas o juízo ainda era pouco

O almoço era quase dia de folga

Queria que o tempo engatinhasse

Para que dele não descuidasse

Mas cá entre nós, era pura malandragem

Não muito satisfeito com a chefia

Gritou aos quatro cantos que obrigação a ela não devia

E assim, aconteceu o que já sabia

Na manhã que prosseguia, voltou ao lugar onde ordens recebia

A demissão foi seu bom dia!

Outra vez, o tempo fechou

A santa, a mãe, se desesperou

Prometeu mais uma vez não interceder

Viu a mesma cena acontecer

E em mais um problema sua cria se meter

E mais uma vez

Fugiu como uma criança que vai pra Neverland

Compromisso não era seu amigo

Preferiu se divertir com o inimigo

Só até se machucar

Correu pros braços daquela sempre lhe acolheu

Tomou um fôlego e desapareceu

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Plaisir

Diante do nada, me resta vontade.
Durante o momento, a curiosidade.
Depois da curiosidade, a necessidade.
Por instinto num momento
Me veio a cabeça movimentos
A boca, a água
No corpo o pecado
Arrepiado com o que imaginava
A vontade não cessava
E tudo me perguntava
-É o que te faltava?
Foi estranho, a pele sentindo
O pecado sorrindo
O medo partindo
E mais, mais um pouco
Mas não mais
Só pra deixar na saudade
Depois de saber do que é bom
O nada e o quase lá
Estão no mesmo patamar
E é aí que entendemos
É indispensável, inevitável
É a carne por si só
Entregue num fluxo vital
“E eu perco a voz
Quero mais...”


Victor Hugo Andrade

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Só dois


No caderno manchado de tinta

Nas ultimas paginas escritas

Vejo um momento

Leio um pensamento

Me lembro do que me fez sentir

Vejo no céu estrelado

Ou com o tempo nublado

Que o que bate no peito

É o que vem de jeito

Ontem tava lendo o que escrevi

E as coisas que mostrou pra mim

Pedaços de papeis rasgados

Com sentimentos desfiados

Em frases que agora eu nem sei dizer

Ou aquele sentimento da música

Que me lembrou

Que aquilo tudo era bobagem

E daquela pessoa

Que te fez suspirar

E me deu saudade

Ou aquele buteco

Lá na esquina do centro

Onde sorriamos atentos

Para o que o outro queria dizer

Parece loucura

Mas não mudo minha postura

Foi assim que te encontrei

Posso apostar

Isso tudo vai durar

Era você que eu sempre esperei


Victor Hugo Andrade/ Carolina Helena

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Madrugada


Gosto da madrugada

Porque, além de mim, não há mais nada.

A não ser o cão que ladra

Ou o morcego que bate a asa.


Gosto de ficar sozinho

Pensando a noite no meu quarto

Sem ter que abrir a janela para outras mazelas.

Gosto do canto do galo.

É quando me calo e deixo a alma falar.

Assisto a noite virar dia

E a sintonia do sol com o fim do luar.

O escuro faz companhia a minha pele vazia

Que eu deixo respirar.

Gosto da sensação de solidão

Mas sei que tudo vai voltar.


Victor Hugo Andrade