domingo, 15 de dezembro de 2013

Vinte e alguns

Tá batendo aquela neura do “tô ficando velho e não tenho porra nenhuma”. O que eu quero ter, enfim? Tudo que penso em conquistar parte de um ideal da “sociedade normativa”: dinheiro, sucesso profissional e talvez uma família. Tudo bem que essas coisas são realmente necessárias já que a gente precisa de dinheiro pra sobreviver e pra ter dinheiro a gente precisa trabalhar. Mas o que gera a angústia é não saber o que vou fazer pra ter uma vida financeira saudável. A resposta pode parecer simples pra maioria das pessoas, pra mim não é. Não consigo me imaginar fazendo algo que não gosto, só para ter grana. Tem que ter alguma paixão ali. Tenho procurado me encontrar em alguma coisa que possa me trazer a estabilidade profissional e financeira que desejo, mas tá foda. Nada parece ser pra mim. Eu me sinto incapaz de tudo. O mundo me causa medo. O meu olhar é o desenho do desespero. Fico louco quando começo a pensar que posso ser um fracassado eminente. Que vou passar o resto da vida fazendo o suficiente pra garantir as contas do mês e mais nada. Que todos os dias terei que me preocupar doentiamente com o saldo negativo, com a segunda-feira que vem trazer mais uma semana de tortura do “tem que correr, correr, tem que se adaptar”. Meu maior medo é não poder relaxar um dia. Não poder fazer o que gosto por não saber o que gosto. Meu maior medo é o fracasso.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

“CHEGA! PAREM! PARE!”

O caos mental é tudo que ele tem. Mais nada. Tudo que ele não tem é o sossego de uma noite bem dormida, um afago do amor no fim do dia, o silêncio do nada... Tentam de todas as formas ensiná-lo a fingir, dizer e pensar que poderia estar pior, mas ele não quis aprender. Faltou coragem e saco pra tanto. Não conseguia ver carnaval em meio a tanto velório. Nem mesmo ele sabia onde estava seu céu, quais milagres precisava para se sentir completo e vivo de verdade. Ele se sentia só e mal acompanhado. Corria, corria muito e se cansava. Todas as vozes de si mesmo eram seu combustível para nunca parar. “CHEGA! PAREM! PARE!” Ele gritava pra si mesmo, mostrando olhos silenciados para quem o olhava. Elas não chegam, elas não param, ele não para. 

domingo, 15 de setembro de 2013

Um pouco

Um pouco de fantasia
Pra curar a mania de arder à dor do dia
Um pouco de harmonia
Pra sentir que a vida pode ser boa e não só melancolia
Um pouco de amor
Pra fingir que a felicidade não é só minha
Um pouco de paciência
Pra saber que a palavra necessária só pra frente caminha
Um pouco de aflição
Pra saber que nem tudo é happy end, comemoração
Um pouco de rebeldia
Pra saber que a sarna coça, sem distinção
Um pouco de família
Pra entender que a calmaria acaba no fim do dia
Um pouco de atenção
Pra perceber que não estou sozinho
Um pouco de amigos
Um pouco mesmo, bem pouco.
Um pouco de sexo
Todos os dias, pra ter um relaxante por perto
Um pouco de louco
Um pouco de torto
Um pouco de morto

É isso.

Tá perto.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Gato

Seu sobrenome é Gato. Cheio de manha, vontades, peculiaridades. Nunca fui de me apegar aos felinos. Principalmente os de miado muito mole e sedentos por atenção. Sempre me encantei por tigres ou leões: imponentes e destemidos. Esse Gato é atrevido, mas teme não ser querido. Então, logo dá seu jeito de se esfregar aqui e ali, buscando toda atenção que precisa para se sentir vivo. Os olhos do Gato, de uns tempos pra cá, andam se encontrando com os meus. Eles não se dão. Às vezes se ignoram, outras poucas namoram. Mas é rápido, eles não se apaixonam. Sem apegos. O Gato usa botas lindas e surradas, sujas de lama que não sai dali. Eu sempre a vejo, é memória que eu não devo esquecer, é para eu saber por onde ele andava enquanto eu me encontrava. Apesar de eu relutar, não encarar, amar os caninos e felinos de grande porte, esse Gato tem ganhado minha atenção. Mais do que merece, diga-se de passagem. Não, não quero admitir que, se ele quiser, pode se esfregar em mim pra fingir que fez muito pra me ganhar. E não vou admitir. Não mais. O que me mantem sempre arisco é toda aquela lama, que eu quero ver sempre; para saber por onde procurar esses miados sedentos por mim, que sempre dou toda minha atenção. O Gato está indo sujar um pouco mais suas botas. E eu? O que eu vou fazer? Vou escutar seus miados e fingir que eu não me apego, dando toda minha atenção. Afinal, é disso que ele precisa pra ser assim tão Gato.