Quantas vezes você é parado na rua para dar atenção a alguém que pede alguma ajuda? Pouco para informação; as vezes pra pedir sua cerveja; e quase sempre para vender alguma coisa. Há uma abordagem que coloca qualquer uma dessas no bolso: pedir dinheiro.
Estávamos eu e uma amiga, em uma livraria DENTRO DE UM SHOPPING, fazendo planos para uma viagem, anotações de um projeto, observando as outras pessoas que passavam por ali e tomando cada um sua bebida. E eis que se aproxima de nossa mesa uma jovem, com os olhos assustados, voz baixa, bem mansa, pedindo dinheiro a fim de comprar comida para ela e seus irmãos. Sempre proferindo frases clichês nos agradecendo em nome de Deus, sem nem mesmo ter ouvido nossa resposta. Obvio, queria nos convencer clamando por dó e temor divino. Refleti por um instante: “Dinheiro eu não dou. O único “vício” que sustento é o meu”. Depois da breve reflexão respondi: “Não. Não tenho.” Minha amiga, acredito eu, seguindo a mesma linha de raciocínio, disse o mesmo. A jovem, que provavelmente já tem experiência com esse tipo de situação, respondeu em contra partida: “Então me dá alguma coisa pra comer?”. “Sim. Peça um pão de queijo a garçonete”, respondi. Fiz um sinal de positivo autorizando o pedido. Já estava observando a jovem desde sua entrada no local. Não estava mal arrumada, não cheirava mal, sabia usar as palavras. Teria ela algum desvio mental? Ou seria uma dependente química? Continuei observando, tentando prestar total atenção no que minha amiga dizia, mas era difícil, ela continuava parando de mesa em mesa. Não conseguia entender o que ela dizia, só sei que os olhos continuavam assustados, mas agora estavam carregados com um pouco de ódio. O novo alvo escolhido não teve a mesma paciência que eu e, provavelmente, havia negado algo a ela. A jovem, agora comendo o lanche oferecido, desejava algo para beber. Voltou em nossa mesa. Agora pedia um café a minha amiga, que respondeu negativamente. Se achando no direito de questionar a resposta, respondeu num ímpeto velado: “Ele me deu o pão de queijo, você poderia me dar pelo menos um cafezinho”. Naquele momento perdi toda a compreensão que havia me levado a dizer sim outrora: “Já te dei o pão de queijo, está de bom tamanho”. Indignada, a jovem saiu resmungando sobre minha resposta, com um olhar querendo dizer “você me paga, te pego na saída, etc”. Toda aquela movimentação chamou atenção das garçonetes, que foram logo cercando-a e pedindo para que se retirasse do local. Continuei observando. Ela não se conformava com a ideia de ter que sair dali sem seu “cafezinho”. Logo que desceu as escadas, comecei a questionar com minha amiga, sobre a aparência da moça: roupas limpas, cabelo bem cuidado (com californianas), tênis de marca e um detalhe que me chamou ainda mais atenção. As roupas poderiam ser de doações, mas e as unhas bem feitas da cor Deep Pink?
Victor Hugo
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