domingo, 20 de maio de 2012

Carne, osso e coração.


A verdade é que amadureci a cabeça e deixei o coração na mão, no bolso, no forno e depois no congelador. Não aprendi a ouvir “não”, nunca tive que pedir perdão, sempre fui um ímpeto. Minhas palavras quase nunca foram suaves, eu sentia um gosto amargo na minha boca. Elas chegavam pesadas aos ouvidos de quem escutava. Acho que sempre fui assim por reflexo de criação: palavras pouco medidas, sem muito carinho. Isso me fez congelar sentimentos e ser independente deles por muito tempo. Não vivi amores na pré ou na adolescência, sempre me privei disso por medo de rejeição. Achava que podia viver sem isso o resto da vida. Até que cresci e encontrei minha tribo. Com ela veio a vontade do corpo, o toque, o beijo, o sexo. O beijo demorou pra chegar, e quatro anos depois o sexo chegou num ímpeto. E foi ótimo. Só que eu deixei o amadurecimento do coração de lado. Aí o cérebro deu um jeito de me enganar dizendo que estava tudo ok, que eu sabia lidar com tudo. Mas não. Eu continuo impulsivo e contraditório. Tenho que aprender a compreender mais, ouvir não, ser menos orgulhoso, me desculpar, desculpar o outro, saber que a hora vai chegar e que eu não sei brincar de ciranda. Não sei rodar. Meu amor não vai ser pouco; se eu tiver, ele será por inteiro. Não sei sentir pela metade. 

domingo, 13 de maio de 2012

Let me go rock ‘n roll


Como é bom estar na pista do rock ‘n roll: entrar nas rodas de pogo, a música alta, as pessoas se divertindo, rock. As rodas surgem a todo instante, você entra se quiser e sai quando der. A vida é assim. Você pode escolher se sentir mais vivo, livre, ou se prender ao espaço de conforto. E eu só me sinto vivo em meio ao caos, as pessoas, a música, o rock. É lá que eu me sinto a vontade, sem ter que dizer do que sou capaz. Tenho os dias de bossa, de samba, de chorinho, romantismo e tango. E é assim que vou levando. Preciso de alguém que passe tardes de domingo vivendo uma bossa comigo. Noites de sábado perdendo os pés no samba. Nos dias nublados, ouvindo meu chorinho. Em dias de saudade, cantar um romantismo. Depois dançar noites inteiras de tango, tomando banho de vinho. E nos meus dias de euforia, se não quiser vir junto, me deixe livre de qualquer forma, pra viver o meu lado rock ‘n roll.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Sair do armário: QUEM NUNCA?


Faz muito tempo que não é segredo pra muita gente a minha condição sexual. Na verdade, não é segredo pra ninguém: quem não sabe é porque não me conhece ou porque não me perguntou. Pois bem. Hoje em um carro com mais 4 pessoas, a seguinte frase foi dita, “o mundo é gay”. Uma das pessoas logo reagiu mostrando toda a sua, heterossexualidade, “eu não faço parte desse mundo”. Será que não? Essa mesma pessoa já disse que foi a um bar gay “pra pegar muié”. Será mesmo? Essa pessoa é do sexo masculino, um homem. Bastou eu dizer uma frase pra que a pergunta fosse feita: “Você é gay, Victor?”. Respondi que sim com naturalidade. Estar preso em um estereótipo é tão confortável que se negavam a acreditar na resposta, e indagavam de segundo em segundo se era realmente verdade. “Mas você não dá pinta! Você não é afeminado!” “Eu não sou afeminado porque não sou afeminado. Tem caras que são e outros não, oras! Vocês acham que todo gay saiu de novela.” Umas perguntas bem infames foram feitas e eu respondi com muito bom humor. Em momento algum fiquei incomodado com elas, estavam se desprendendo do estereótipo. Uma das garotas disse depois de um silêncio no carro “o assunto acabou”. Acho que percebeu que estavam fazendo um papel um pouco ridículo, ao fazerem perguntas tão bobinhas.

Qual foi a frase que eu disse?

“O mundo é gay, e o universo é um grande armário.” 

domingo, 6 de maio de 2012

Quando um não quer


Eu pensei que seria diferente, mais uma vez. Mas não era. Foi igual porque ele queria que fosse. Não esperava encontrar alguém disposto a ser diferente. E se tem uma coisa que me irrita é me comparar com aquele ou aquela, e, além de comparar, esperar/deduzir que eu vá fazer as coisas da mesma forma. Pois bem, lá estava eu sendo eu mesmo, como deveria ser naquela situação: tranquilo, paciente, compreensivo, etc. Até que um dia, um dia normal, fiquei emputecido com a tentativa do indivíduo de me REBAIXAR ao nível dos casos passados. Além disso, deduzir que eu não “aguentaria” suas carências e paranóias por muito tempo. QUEM FOI QUE DISSE ISSO? QUEM TE DEU O DIREITO DE TER ESSA CERTEZA QUANTO AS MINHAS ATITUDES? Não disse exatamente essas palavras, ainda estava tentando manter um diálogo maduro – por mais que fosse só da minha parte. O desfecho da conversa resumiu-se em “não quero te perder, vamos ser melhores amigos, você está me ajudando a passar por um momento muito difícil, bla bla bla, mi mi mi”. Da minha parte foi um “não quero ser só seu amigo, não te vejo assim, não me procura mais, quando eu quiser ser seu amigo eu vou te procurar”. Quase um mês depois, liguei achando que já tinha passado e que dava pra ser só amigo, na boa. Mas só tava achando, a verdade era outra. Chamada rejeitada. Um sms resolvia a situação. Não resolveu. E assim ficamos até ontem, o dia vai até 23:59:59, né? Até tomei coragem de tentar outro contato, mas a coragem me fez perder a vontade. Não liguei.

Como eu estava apaixonado por aquela ideia.

Quando um não quer, os dois broxam.

sábado, 5 de maio de 2012

Feito pra acabar

Vive melhor quem se priva de sentir. E sentir está em sofrer. Quem não sofre não vive. Vive melhor quem vive e deixa viver. Vive de verdade quem dói o quanto for necessário para chorar, com ou sem as lágrimas. Ter medo da dor é essencial. Ficar prevenindo o tempo todo é se matar pouco a pouco. Afinal, "a gente é feito pra acabar".