A verdade é que amadureci a cabeça e deixei o coração na mão,
no bolso, no forno e depois no congelador. Não aprendi a ouvir “não”, nunca
tive que pedir perdão, sempre fui um ímpeto. Minhas palavras quase nunca foram
suaves, eu sentia um gosto amargo na minha boca. Elas chegavam pesadas aos
ouvidos de quem escutava. Acho que sempre fui assim por reflexo de criação:
palavras pouco medidas, sem muito carinho. Isso me fez congelar sentimentos e
ser independente deles por muito tempo. Não vivi amores na pré ou na adolescência,
sempre me privei disso por medo de rejeição. Achava que podia viver sem isso o
resto da vida. Até que cresci e encontrei minha tribo. Com ela veio a vontade
do corpo, o toque, o beijo, o sexo. O beijo demorou pra chegar, e quatro anos
depois o sexo chegou num ímpeto. E foi ótimo. Só que eu deixei o amadurecimento
do coração de lado. Aí o cérebro deu um jeito de me enganar dizendo que estava
tudo ok, que eu sabia lidar com tudo. Mas não. Eu continuo impulsivo e
contraditório. Tenho que aprender a compreender mais, ouvir não, ser menos
orgulhoso, me desculpar, desculpar o outro, saber que a hora vai chegar e que eu
não sei brincar de ciranda. Não sei rodar. Meu amor não vai ser pouco; se eu
tiver, ele será por inteiro. Não sei sentir pela metade.
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