domingo, 2 de dezembro de 2012

Discurso formal

Vem com um discurso
Nada amigável
Em tom de quem só vê o mal
Me olha no olho
Só vê desgosto
Dizendo: Nada disso é normal!

De um livro que nem leu o final
Mas diz entender

À minha roupa
À minha voz
E ao meu cabelo
Deseja todo o inferno que tem

Não me ouviu, esbravejou
Não entendeu que eu só amava alguém

Já de cara, jogou na cara
Que fui feito pra fazer outro alguém

Então me diz como vai ser no final
Se só o ódio vencer?

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Voluptuoso


Quando na imaginação surge
Um momento de deslumbre
Logo vence o deleite
Flashes surgem num açoite
As mãos correm
Pelas planícies e curvas do corpo
Um falo, mastro, pau
Rígido, é o ponto principal
A despeito dos outros erógenos
Ele é o foco
Nos movimentos de cima a baixo
Em seu tronco e o ponto mais alto
Carrega toda a tensão
No ápice da fantasia
Aonde se torna dissoluto
Cospe o gozo para a prova
De que o apogeu dos prazeres
É físico, palpável
O produto desce por escárnio
Meias vidas pelo ralo
E então, por fim, o falo fali
Quieto e triste
Esperando por mais um devaneio voluptuoso 

domingo, 28 de outubro de 2012

No final das contas


Quando eu era criança, achava que seria professor de História. A beleza e o profissionalismo de uma professora da 5º série me encantavam. Mas muito antes disso, acho que aos 5 ou 6 anos, eu queria ser o médico que fazia parto. Vulgo obstetra. Talvez fossem esses os primeiros sinais de criatividade, dar vida a algo. Depois passei a gostar de criar bolos com barro. Procurava pelo quintal e pela rua, objetos e plantas para a cobertura. Não demorou muito para aprender a cozinhar: observava minha mãe em todos os passos na cozinha. Daí queria ser cozinheiro, chefe de cozinha. “Pai, quero estudar gastronomia e história”. Ele disse que ainda tinha muita água para passar por baixo da ponte, e que eu iria mudar de ideia muitas vezes. Mantive esse desejo até a 8º série. Foi quando, numa dessas pesquisas que os professores costumam fazer em sala de aula, a professora Daniela (dava aula de Artes) perguntou o que queríamos ser. Quando disse que estudaria gastronomia, ela logo adiantou “Ce sabe que cê vai ter que ó... ir pra fora”. Me deu um frio na barriga. Como assim ir pra fora? Ficar sem meus pais e irmão? Meus amigos? Não dá. Tenho que fazer outra coisa. Não demorou muito pra eu descobrir uma nova vontade. “Tio, o que eu tenho que estudar pra ser diretor de clipe?” “Ah... Cinema.” Minha tia fez uma cara de “Cê vai estudar isso?”. Ok. Agora quando me perguntarem o que eu vou estudar, a resposta será Cinema. Sempre via meus colegas dizendo que iriam fazer medicina, engenharia, psicologia... Coisas socialmente aceitáveis. Mas eu queria fazer Cinema. Eu, pobre, morando na zona norte. “Vai viver do quê?” Não sei como descobri Publicidade e Propaganda. Mas já no ensino médio me lembro de ter escolhido isso. Hoje eu nem quero mais. Um dia meu amigo me apresentou o “Movie Maker”, editor de vídeo do Windows. Achei fascinante. Depois disso pesquisei sobre outros programas semelhantes e decidi: vou ser diretor e editor. Sempre que era possível, eu apresentava um trabalho em vídeo. Mesmo quando não dava, eu gravava a apresentação pra editar e compartilhar com os amigos. Era uma paixão sem volta. Em 2011 comecei a estudar para seguir esse sonho. Formei-me em Técnico em Rádio e Televisão. UAU! Passou um filme longo na minha cabeça: depois de tanto divagar sobre profissões, encontrei a que realmente faz sentido. Mas um sentimento de insatisfação toma conta de mim, numa proporção pavorosa. Nunca está bom o suficiente. Sempre acho que falta um pedaço, sobra um pedaço. E ter estudado o que eu realmente escolhi, encheu minha cabeça de interrogações. Descobri que canto bem em jingle, sou um bom locutor, amante de fofocas cômicas de subcelebridades (criei um podcast pra isso), escrevo textos bons para meu tímido blog, sou um bom editor de áudio e vídeo, aspirante a cinegrafista e operador de câmera. Além disso, cozinho bem. Mas não fiz nenhum parto, me atrapalho pra contar histórias e não tenho uma boa memória. Apesar de não parecer, não sou seguro de nada disso. Acredito quando dizem que sou bom em alguma coisa só pra não pirar de vez.

Às vezes dá medo de não ser bom em nada no final das contas. 

Da curiosidade

Ai, se a curiosidade soubesse
O quanto a alma padece
Pra poder se sustentar

Ela se contentaria com o que tem
Não duvidaria de ninguém
E deixaria esse pobre homem descansar

Mas eu que sou quase bobo
Tenho o coração de tolo
A deixo tudo comandar

Eu que vivo me perdendo por aí
Logo tão tarde percebi
Que ela faz meu doce azedar

Ela que pergunta até quando
Tanto, quanto, até como
O meu peito pode aguentar

Falo grosso, bem baixinho
Admito, eu não minto
Que ela faz meu mundo girar

sábado, 18 de agosto de 2012

Dó De Mi, Não Fa Sol


Quem nunca se pegou olhando uma prova, trabalho aonde perdeu alguns décimos, por não ter formulado bem uma frase? É bem comum. E isso se estende aos vídeos editados, palhetadas mal dadas no violão, a pitada de sal no almoço... Tudo tende a insatisfação.

Esse sentimento é muito recorrente pra mim, que sou extremamente impulsivo. Penso pouco antes de soltar minha raiva nas palavras, meus desesperos e descontentamentos. Tem muita coisa que eu faria diferente sim, essa de dizer que “faria tudo igual” pra mim não rola. Arrependo de não ter dito cautela ao me defender da insatisfação que vivi. Poderia e deveria ter tido mais cuidado com as palavras. Com as atitudes não; fiz o que era certo, da maneira errada. Errei a mão. E foi muito difícil admitir que eu fiz a merda toda. Mas eu não sou de ferro, tenho meus destemperos e nem sempre sei lidar com eles, entenda. Eu entendi toda sua insegurança e o medo. Mas me privar da minha vontade era difícil. Ou satisfazia por inteiro, ou me deixava na vontade de vez. Escolhi a segunda opção. Escolhi o certo de forma errada. Falhei. Quem nunca?

Espero que tenha entendido mesmo que todo mundo salga a carne, erra o acorde, esquece uma palavra...

E eu errei o tom. Dó De Mi, Não Faz Sol.

“Talvez, a resposta correta pode não ser a solução.”

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Entregue


Dançando a dança do som
Sorrindo a graça da rua
Sentir sua mão sobre a minha
E assistir o nascer da lua

Ouvir o rádio sem tédio
Ler a bula sem tomar remédio
Viver sem procurar sentido na vida
Subir escadas sem ter prédio

Fico sem chão quando tem paixão
Vou com o vento, eu não enxergo
Falta pouco pra não respirar
Não me contenho, eu me entrego

domingo, 8 de julho de 2012

Nada concreto


Nunca gostei de despedidas. Acho que é pelo fato delas me fazerem chorar. E quando eu choro acabo assustando as pessoas. Não, não choro pavorosamente. É que não estão acostumados a me verem chorar mesmo. É estranho até pra mim. E quando eu começo é difícil parar, acho que toda lágrima que ficou aprisionada durante um longo tempo quer sair. Esses dias estou emocionalmente instável. Acabei de me formar e vou ter que acostumar com a ideia de ver, cada vez menos, as pessoas que convivi durante quase todos os dias no último ano e meio. E não é só isso. Minha melhor amiga vai passar 5 meses na Carolina do Norte. É bem longe. A internet vai remediar a dor da distância. Tô tendo que conviver com o fim do meu estágio também. Ganhava pouco mas me divertia muito. Desempregado, pobre e sem dinheiro definem meu perfil nesse momento. Nesse período de vagabundagem ócio me apaguei a uma série gringa, “Shameless”. Ótima comédia dramática. Mostra os humanos como realmente são. Sem draminhas teens ou sofrimentos sem fim. E toda vez que termina um episódio eu sinto saudades dos personagens e volto correndo pro PC pra baixar mais um episódio. Além disso, esses dias tem me batido uma velha saudade de um sentimento muito bom que foi interrompido com dó e sem piedade. Mas já falei muito dele aqui. Esse texto foi só pra falar de saudade mesmo. Nada concreto. 

sábado, 2 de junho de 2012

To Love Somebody (I see your face again)



Eu sei que tudo passa, que não foi o primeiro nem o último. Mas sabe? Sabe. Eu sei que sabe. O fantasma do “se” não some, é um martelo batendo na minha cabeça o tempo todo. É um vai e vem, que não pára. Diminui mas não pára. Eu tenho o que estudar, tenho que trabalhar, amigos pra cuidar e para cuidarem de mim. Tudo isso ocupa meu tempo, mas sempre há um momento em que eu me pego falhando e vivendo o que nunca aconteceu. Esse sou eu. “Hoje eu olhei pra lua me lembrei de você.” “Mas por quê?” “Ela está linda.”. Veio um vento frio, minha cachorra pulou em mim e eu acordei. Era um sonho. Eu mais uma vez acordando pra dentro e vivendo o que a vida podia ser.

Apesar de tudo pesar muito, você pesa mais.

E eu sou forte o bastante pra te carregar junto com outros.

domingo, 20 de maio de 2012

Carne, osso e coração.


A verdade é que amadureci a cabeça e deixei o coração na mão, no bolso, no forno e depois no congelador. Não aprendi a ouvir “não”, nunca tive que pedir perdão, sempre fui um ímpeto. Minhas palavras quase nunca foram suaves, eu sentia um gosto amargo na minha boca. Elas chegavam pesadas aos ouvidos de quem escutava. Acho que sempre fui assim por reflexo de criação: palavras pouco medidas, sem muito carinho. Isso me fez congelar sentimentos e ser independente deles por muito tempo. Não vivi amores na pré ou na adolescência, sempre me privei disso por medo de rejeição. Achava que podia viver sem isso o resto da vida. Até que cresci e encontrei minha tribo. Com ela veio a vontade do corpo, o toque, o beijo, o sexo. O beijo demorou pra chegar, e quatro anos depois o sexo chegou num ímpeto. E foi ótimo. Só que eu deixei o amadurecimento do coração de lado. Aí o cérebro deu um jeito de me enganar dizendo que estava tudo ok, que eu sabia lidar com tudo. Mas não. Eu continuo impulsivo e contraditório. Tenho que aprender a compreender mais, ouvir não, ser menos orgulhoso, me desculpar, desculpar o outro, saber que a hora vai chegar e que eu não sei brincar de ciranda. Não sei rodar. Meu amor não vai ser pouco; se eu tiver, ele será por inteiro. Não sei sentir pela metade. 

domingo, 13 de maio de 2012

Let me go rock ‘n roll


Como é bom estar na pista do rock ‘n roll: entrar nas rodas de pogo, a música alta, as pessoas se divertindo, rock. As rodas surgem a todo instante, você entra se quiser e sai quando der. A vida é assim. Você pode escolher se sentir mais vivo, livre, ou se prender ao espaço de conforto. E eu só me sinto vivo em meio ao caos, as pessoas, a música, o rock. É lá que eu me sinto a vontade, sem ter que dizer do que sou capaz. Tenho os dias de bossa, de samba, de chorinho, romantismo e tango. E é assim que vou levando. Preciso de alguém que passe tardes de domingo vivendo uma bossa comigo. Noites de sábado perdendo os pés no samba. Nos dias nublados, ouvindo meu chorinho. Em dias de saudade, cantar um romantismo. Depois dançar noites inteiras de tango, tomando banho de vinho. E nos meus dias de euforia, se não quiser vir junto, me deixe livre de qualquer forma, pra viver o meu lado rock ‘n roll.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Sair do armário: QUEM NUNCA?


Faz muito tempo que não é segredo pra muita gente a minha condição sexual. Na verdade, não é segredo pra ninguém: quem não sabe é porque não me conhece ou porque não me perguntou. Pois bem. Hoje em um carro com mais 4 pessoas, a seguinte frase foi dita, “o mundo é gay”. Uma das pessoas logo reagiu mostrando toda a sua, heterossexualidade, “eu não faço parte desse mundo”. Será que não? Essa mesma pessoa já disse que foi a um bar gay “pra pegar muié”. Será mesmo? Essa pessoa é do sexo masculino, um homem. Bastou eu dizer uma frase pra que a pergunta fosse feita: “Você é gay, Victor?”. Respondi que sim com naturalidade. Estar preso em um estereótipo é tão confortável que se negavam a acreditar na resposta, e indagavam de segundo em segundo se era realmente verdade. “Mas você não dá pinta! Você não é afeminado!” “Eu não sou afeminado porque não sou afeminado. Tem caras que são e outros não, oras! Vocês acham que todo gay saiu de novela.” Umas perguntas bem infames foram feitas e eu respondi com muito bom humor. Em momento algum fiquei incomodado com elas, estavam se desprendendo do estereótipo. Uma das garotas disse depois de um silêncio no carro “o assunto acabou”. Acho que percebeu que estavam fazendo um papel um pouco ridículo, ao fazerem perguntas tão bobinhas.

Qual foi a frase que eu disse?

“O mundo é gay, e o universo é um grande armário.” 

domingo, 6 de maio de 2012

Quando um não quer


Eu pensei que seria diferente, mais uma vez. Mas não era. Foi igual porque ele queria que fosse. Não esperava encontrar alguém disposto a ser diferente. E se tem uma coisa que me irrita é me comparar com aquele ou aquela, e, além de comparar, esperar/deduzir que eu vá fazer as coisas da mesma forma. Pois bem, lá estava eu sendo eu mesmo, como deveria ser naquela situação: tranquilo, paciente, compreensivo, etc. Até que um dia, um dia normal, fiquei emputecido com a tentativa do indivíduo de me REBAIXAR ao nível dos casos passados. Além disso, deduzir que eu não “aguentaria” suas carências e paranóias por muito tempo. QUEM FOI QUE DISSE ISSO? QUEM TE DEU O DIREITO DE TER ESSA CERTEZA QUANTO AS MINHAS ATITUDES? Não disse exatamente essas palavras, ainda estava tentando manter um diálogo maduro – por mais que fosse só da minha parte. O desfecho da conversa resumiu-se em “não quero te perder, vamos ser melhores amigos, você está me ajudando a passar por um momento muito difícil, bla bla bla, mi mi mi”. Da minha parte foi um “não quero ser só seu amigo, não te vejo assim, não me procura mais, quando eu quiser ser seu amigo eu vou te procurar”. Quase um mês depois, liguei achando que já tinha passado e que dava pra ser só amigo, na boa. Mas só tava achando, a verdade era outra. Chamada rejeitada. Um sms resolvia a situação. Não resolveu. E assim ficamos até ontem, o dia vai até 23:59:59, né? Até tomei coragem de tentar outro contato, mas a coragem me fez perder a vontade. Não liguei.

Como eu estava apaixonado por aquela ideia.

Quando um não quer, os dois broxam.

sábado, 5 de maio de 2012

Feito pra acabar

Vive melhor quem se priva de sentir. E sentir está em sofrer. Quem não sofre não vive. Vive melhor quem vive e deixa viver. Vive de verdade quem dói o quanto for necessário para chorar, com ou sem as lágrimas. Ter medo da dor é essencial. Ficar prevenindo o tempo todo é se matar pouco a pouco. Afinal, "a gente é feito pra acabar".

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Do Caos


“Eu sou aquela que está sempre à espera do caos.” Pitty

Me identifico com essa afirmativa. Tenho sempre a impressão de que algo de ruim está para acontecer quando estou muito satisfeito, feliz com alguma coisa. Esse fim de semana foi muito bom, vinho, música, papo sobre tudo e todos, minha melhor amiga, violão e a gente cantando. Só nós dois. E eu todo satisfeito. Mas alguma coisa me incomodava, hora alguma música que eu me identificava a ponto de perder todo aquele encanto pelo momento, hora pelo medo de estar incomodando os vizinhos com o barulho que a gente fazia. Poucos momentos eram de pura leveza e descontração, estou sempre atento aos possíveis desprazeres que possam tomar conta de mim.

Acho que às vezes eu provoco uma auto sabotagem se o caos não vem; cutuco feridas, jogo sal só pra ver se ainda vai doer, e dói. Lateja por uns dias, por vezes sangra, e não há curativo melhor que o tempo. Quando passa, a ferida cicatriza, e olho, olho. Toco, tento cutucar, e já não dói. Agora é só marca. Mas a memória é inimiga, ela traz o caos, e ele que se resolva dentro de mim. Afinal, eu estou sempre esperando por ele.

“To aproveitando cada segundo antes que isso aqui vire uma tragédia.” Pitty

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Dessas Coisas

Andei por uma avenida perigosa já sabendo que estava mal cuidada. Eu sabia que o caminho que estava fazendo era desconhecido, e por isso perigoso. Mas o perigo não era movimentação de carros, de pessoas ou animais. Isso quase não tinha. O problema era mesmo os buracos, o desgaste do asfalto, as árvores do canteiro central secas e desfolhadas. Observava o movimento de pouquíssimas pessoas. Elas estavam felizes e soltavam pipas; era a comemoração da noite de São João. A tradição era levar a pipa até certa altura e depois deixá-la solta no ar, ara seguir o caminho que o vento achasse melhor. Com nuvens em tom de azul escuro, o céu contrastava em tom de rosa. As pessoas gritavam felizes, dizendo que aquilo era melhor coisa do mundo, que adoravam essa festa. As crianças corriam atrás dessas pipas, às vezes até brigavam por elas. Foguetes de todos os tipos brilhavam no céu. Eu me sentia totalmente deslocado no meio daquilo, mas queira ver mais. Queria conhecer mais. O telefone toca, eu sinto um abraço apertado, quente e protetor. A voz me dizia tudo que eu queria ouvir; mas era uma simples reprodução de bons tempos, sem mágoa, raiva, saudade ou desgosto. A avenida era um sonho perturbado. Sonho de febre. O abraço, um delírio acordado. Garganta inflamada e coração ferido têm dessas coisas.